domingo, 9 de agosto de 2009

Uma lição de cortesia

Seção: Língua e Etiqueta
Pessoas prepotentes são sempre alvo de repulsa pela sociedade. Além disso, acredita-se que a prepotência é uma característica que advém de posturas corporais. Assim, um nariz constantemente empinado pode ser sinal de prepotência. O que pouco se percebe é que ela pode também ser detectada através do modo como as pessoas usam a língua portuguesa.
Linguisticamente, prepotente é aquele indivíduo que sempre se coloca em primeiro lugar. E é claro que isso não é de bom tom. A boa cortesia postula que, numa sucessão de palavras que designem pessoas, o falante deve sempre se referir às outras pessoas antes de se referir a si mesmo. Compare, pois, os diálogos abaixo entre A e B.

Diálogo 1 –
A: Quem passou no vestibular?
B: Eu, Aurélia, Ana e Ricardo. Todos nós estudamos muito!

Diálogo 2 –
A: Quem passou no vestibular?
B: Aurélia, Ana, Ricardo e eu. Todos nós estudamos muito!

O segundo diálogo é muito mais cortês e polido que o primeiro uma vez que seu falante não adotou uma postura prepotente. Na descrição dos nomes de aprovados no vestibular, a referência a si mesmo (por meio do pronome eu) veio por último – atitude extremamente elegante e que não necessitaria de grande esforço para ser percebida.

Mais exemplos:
Ireni e eu iremos à festa.
Quem lhe oferece este jantar somos minha esposa e eu.
Sua professora e eu cremos que você está de parabéns!

Por outro lado, em situações que possam colocar o falante em posição de desvantagem ou desprestígio, o elegante, então, é que ele se coloque em primeiro lugar. Analise:
Eu e minha esposa somos os culpados pela má criação de nosso filho.

Nessa situação, o falante (provavelmente, um marido) divide a culpa com sua esposa; no entanto, ele se coloca elegantemente como primeiro alvo de críticas, caso elas existam. É como se ele dissesse: “Podem culpar minha esposa, mas, antes, culpem a mim.”

Mais exemplos:
Os responsáveis pela falha no sistema fomos eu e minha secretária.
Critiquem a mim e a meu assessor pelo erro; ele não fez nada sozinho.
Fernando Sachetti

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