A audiência da minissérie, pesarosamente, não foi das melhores. Nem Rodrigo Santoro - um galã de projeção internacional - nem Regina Casé - uma artista de grande apelo popular - foram suficientes para garantir boa audiência. Pergunto-me o porquê e percorro caminhos que me conduzem a uma possível resposta. Siga-me.
Dos primorosos diálogos de Som & Fúria, lembro-me de uma conversa franca travada entre a personagem Ellen*¹ (no enredo, uma atriz já veterana) e Kátia*² (por sua vez, uma atriz novata) a respeito da carreira teatral no Brasil. Sentadas a uma mesa de bar, Ellen diz à inexperiente colega que a maioria dos artistas de teatro no Brasil está fadada ao Retiro dos Artistas – uma espécie de albergue carioca onde atores e atrizes vivem de doações e se alimentam de saudosismo.
Lembro-me mais claramente ainda de um diálogo do último capítulo, travado entre Ellen e Dante à coxia de um teatro. Ellen, absorta em si mesma, se dá conta da precariedade emocional e financeira em que se encontra após os longos anos de dedicação à arte dionisíaca.
Ainda fazendo um levantamento da minissérie, vale lembrar que, na sinopse, Jaques Maya*³ era um galã teen televisivo que subiu cruamente ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro para dar vida a Hamlet. A presença de Jaques no elenco lotou o Municipal, uma vez que suas fãs histéricas foram ver o Jaques interpretando Hamlet – e não Hamlet interpretado por Jaques.
Ao se reagruparem as pecinhas anteriores, temos: Retiro dos Artistas ao término da carreira; precariedade emocional e financeira como sina; necessidade de um galã de TV para alavancar a bilheteria de um teatro. Somando-se a isso a conhecida falta de intimidade do brasileiro com o teatro e a baixa audiência de Som & Fúria, concluo desconsoladamente que:
o teatro não dá audiência nem em televisão. Nem com Rodrigo Santoro.
*¹ personagem vivido por Andréa Beltrão;
*² personagem vivido por Maria Flor;
*³ personagem vivido por Daniel de Oliveira.