sexta-feira, 2 de abril de 2010

A prateleira ao lado é mais saudável.

Seção: Bazar.
Quem viveu na década de 1980 se lembra muito bem do nome Patrícia Marx. Seus sucessos Festa do Amor e Certo ou Errado não podem faltar nas baladas estilo túnel do tempo, tão em voga nos dias de hoje.
Muitos saudosistas lamentam o afastamento de Patrícia da mídia. Muitos, inclusive, acreditam que ela nem mais canta. Ledo engano.
Patrícia Marx ainda canta. Ou melhor: Patrícia Marx canta como nunca. Corrijo-me pela terceira vez: Patrícia Marx canta para ouvidos requintados.
A garotinha que, um dia, fora vocalista do grupo Trem da Alegria é, atualmente, dona de uma voz límpida e intérprete de canções belíssimas, as quais, infelizmente, não são tocadas em rádio, não têm refrão óbvio, não têm apelo sexual e não combinam com programas de domingo à tarde.
Patrícia Marx não sumiu. O que sumiu foi o requinte musical do brasileiro. Basta de bundas, de frutas, de sapos caindo na lagoa, de quadrados, de cinco velocidades... de rebolation! Tudo isso é comercial, é perecível, é efêmero... é empobrecedor.
Para refrescar a memória, ouça, abaixo, um grande sucesso dos anos 1980 de Patrícia Marx e, em seguida, sua mais nova pérola musical (Minha paz, canção lançada em 2009).






Outra voz nacional que amadurece dia após dia é Paula Toller (vocalista do Kid Abelha), que agora se dedica à carreira solo. Mas veja que curioso: foi só Paula Toller deixar de lado baladinhas superficiais como Fixação e se aventurar numa musicalidade madura que ninguém mais ouve falar em Paula Toller. É incrível o mau gosto do brasileiro! Enfim...
Agora, delicie-se com uma deslumbrante performance de Paula Toller, extraída do DVD Nosso, lançado em 2008.



Fernando Sachetti

O Lago dos Cisnes (duas variações)

Seção: Tricomas em pé.
O Ballet não é substantivo; é uma dança adjetiva. Ballet nem é dança; é a escuma do eterno por vir (assim mesmo separado: por vir). O Ballet é sutil, harmonioso, plástico, simétrico... é clássico. É indefinível porque adjetivo.
Fernando Sachetti




CORRIMÃOS ou CORRIMÕES?

Seção: Merenda.
O plural parece ser ponto pacífico entre os curiosos da língua. Afinal, que dificuldade pode haver ao se pluralizar cadeira ou embrulho? Neste caso, basta que se adicione a desinência –s para que os vocábulos anteriores abandonem a forma singular.
Tudo seria muito simples e, de fato, ponto pacífico não fosse a presença de um cidadão. Em itálico. De fato, os substantivos terminados em –ão oferecem grandes dúvidas quanto à formação do plural, uma vez que este pode se dar mediante o uso dos sufixos –ãos, -ões, -ães. Num rápido teste, tente o leitor descobrir o plural das palavras seguintes:

cidadão / corrimão / anão / cristão / vilão

Como se pôde perceber, todas elas terminam em –ão e, portanto, é natural que surjam indecisões quanto ao plural. Confira na lista abaixo os plurais desses e de outros substantivos de mesma terminação. Atente para o fato de que alguns deles admitem mais de uma forma plural.
SINGULAR - PLURAL
artesão - artesãos
cidadão - cidadãos
cristão - cristãos
pagão - pagãos
gavião - gaviões
folião - foliões
escrivão - escrivães
tabelião - tabeliães
ancião - anciãos / anciões / anciães
vilão - vilãos / vilões / vilães
cirurgião - cirurgiões / cirurgiães
guardião - guardiões / guardiães
anão - anãos / anões
corrimão - corrimãos / corrimões
vulcão - vulcãos / vulcões
Fernando Sachetti

"Tu tens um medo" - Cecília Meireles

Seção: Libido luso-literária
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia.
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.
Cecília Meireles

sábado, 20 de março de 2010

Saravá!

Seção: Isso aconteceu!
É de conhecimento público que o nosso poetinha Vinícius de Moraes sempre se interessou pelo candomblé. Ao que parece, acabou transmitindo essa sua paixão a Baden Powell ao mostrar-lhe um disco que registrava cantos de candomblé, sambas de roda e solos de berimbau. É claro que essa nova paixão (agora compartilhada por ambos) não tardaria a produzir resultados férteis. E o solo fertilizado foi a música popular brasileira.
A canção Canto de Ossanha é a faixa de abertura do álbum Afro-Sambas (na grafia original), lançado pelo selo Forma em 1966. Logo, Canto de Ossanha, além de fundir a letra de um dos maiores poetas nacionais ao arranjo de nosso maior violonista, promoveu o sincretismo definitivo entre as religiões afro-brasileiras.
Para melhor compreensão da letra, deve-se esclarecer que Ossanha, de acordo com o candomblé, é um orixá (deus) detentor do poder das folhas medicinais e, portanto, imprescindível em qualquer ritual.
Abaixo, confere-se a versão de Canto de Ossanha originalmente gravada em 1966 e, em seguida, um encontro descontraído no qual se vê Vinícius de Moraes cantando e, ao seu lado, Baden Powell super à vontade ao violão.
Que resgate!





Fernando Sachetti.

Parônimos IV

Seção: Parecia confuso?
Lixar (raspar ou polir com lixa): Eu tenho que lixar minhas unhas toda semana.
Linchar (punir alguém sem consulta prévia à lei): A turma pegou a ladra e queria linchá-la.
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Absorver (embeber-se de, sorver): O ralo da pia absorveu todo aquele resto de comida.
Absolver (eximir alguém de uma culpa imputada): Após confirmada a inocência do réu, o juiz absolveu-o.
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Peão (indivíduo que trabalha no campo): Lembro-me que vários peões trabalhavam na fazenda de meu pai.
Pião (brinquedo de criança): Mamãe diz que brincava de pião na sua infância.
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Tráfego (movimento de carros): O tráfego de São Paulo por volta das 18 horas fica insuportável!
Tráfico (comércio ilegal): O que você tem a dizer sobre o tráfico de armas na cidade?
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Baixar (fazer download; copiar da Internet): Não compro CD original; prefiro baixar na Internet.
Abaixar (direcionar-se para baixo): Abaixa tua cabeça um pouquinho, por favor. Não consigo enxergar o quadro.
Fernando Sachetti.

Ciência, Ética e Sustentabilidade

Seção: Você pode saber mais!
Dos 4 bilhões de dólares que no momento se gastam com pesquisas pelo governo, indústrias e universidades, somente 150 milhões – menos de 4% - se destinam ao trabalho criativo. A maioria absoluta das pessoas envolvidas na pesquisa, além disso, deve trabalhar em pesquisas nas quais não possuem autonomia alguma, e somente uma fração insignificante está em condições de fazer trabalho independente. Das 600.000 pessoas engajadas em trabalho científico, calcula-se que não mais que 5.000 tenham a liberdade de escolher os seus próprios problemas. (p. 85)
(...)
Isso não significa que só terão lugar no mercado de trabalho futuro – por exemplo, nos próximos 25 anos – trabalhadores altamente qualificados. Não se trata disso. A sociedade moderna sempre se caracterizou pela convivência de mercados de natureza distina e níveis tecnológicos altamente diferenciados. Haverá, durante muito tempo, lugar para trabalhadores com baixa ou média qualificação. Na agricultura. Na construção civil. Nos serviços de limpeza e de manutenção. Entre outros. Mas os postos de trabalho de pouca qualificação serão cada vez em menor número, cada vez mais exigentes em escolaridade, a remuneração cada vez mais baixa, relativamente, e os direitos trabalhistas cada vez mais restritos, tendendo, simplesmente, a desaparecer em alguns lugares da Terra. Noutros, não haverá problemas, porque esses direitos nunca existiram. (p. 102)
trechos extraídos do livro Ciência, Ética e Sustentabilidade (organizador: Marcel Bursztyn; Cortez Editora, 2001).

"Blues da piedade", Cazuza

Seção: 2 mil é dez!
Agora eu vou cantar (...) pra quem vê a luz, mas não ilumina suas minicertezas.


pensamento de Gandhi

Seção: Pense.
Eu não quero que minha casa seja fechada com paredes por todos os lados, e que minhas janelas fiquem trancadas. Eu quero que as culturas de todos os lugares soprem sobre minha casa da forma mais livre possível. Mas eu também me recuso a ser carregado por qualquer uma delas.
(Gandhi)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

TANGO: cotonete para os ouvidos; colírio para os olhos.

Seção: Isso aconteceu!

O tango Adiós Nonino, trazido no vídeo abaixo, foi composto em 1959 por Astor Piazzolla. Adiós Nonino, juntamente com Libertango, são as duas obras-primas que consagraram Piazzolla como o mais primoroso compositor de tango da segunda metade do século XX.
No vídeo, confere-se a cerimônia matrimonial do príncipe holandês Willem Alexander com a princesa Máxima Zorreguieta (de naturalidade argentina), em 2 de fevereiro de 2002. Durante a cerimônia real, a pedido de Máxima, uma orquestra deu vida a Adiós Nonino (que dizem ser o tango favorito do pai da princesa). A execução musical contou com a arrebatadora participação de Carel Kraayenhof ao bandoneon, cuja sensibilidade foi capaz de levar a princesa aos prantos.



Já que o assunto é tango, ainda traz-se em seguida uma das performances do grupo argentino Tango Fire numa de suas turnês pela Europa. Essa companhia tem sido avaliada pela crítica como a melhor companhia de tango do mundo devido à sua impecável precisão coreográfica. A coreografia aqui reproduzida se intitula Verano Porteñas e, não obstante a já citada limpeza de movimentos, os bailarinos são de uma veracidade cênica incrível (destaque para o bailarino que aparece de 1:23 a 1:41).



Fernando Sachetti

Parônimos III

Seção: Parecia confuso?
COMPRIMENTO (extensão) – Qual o comprimento da sua saia?
CUMPRIMENTO (saudação) – Beijo na bochecha é uma forma de cumprimento comum no Brasil.
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SOAR (emitir som / mostrar horário) – Que soem os tambores! / Soaram nove horas no relógio da catedral.
SUAR (transpirar) – Eu suo bastante mesmo quando a temperatura não está tão alta.
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DESPENSA (cômodo onde se conservam mantimentos) – A despensa fica nesse corredor, à esquerda.
DISPENSA (licença para não se fazer algo – vem do verbo “dispensar”) – O adolescente obteve dispensa do serviço militar.
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VESTIÁRIO (local onde se provam roupas) – Moça, onde ficam os vestiários?
VESTUÁRIO (roupagem; trajes; indumentária) – A cor preta é típica do vestuário gótico.
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FUZIL (arma de fogo de cano longo; espingarda) – Centenas de pessoas foram atingidas por fuzis de ar comprimido.
FUSÍVEL (condutor elétrico que evita curto circuitos em caso de excesso de corrente) – A energia tem oscilado muito e acho que o fusível não vai resistir. Provavelmente, haverá um desligamento geral.
Fernando Sachetti

"Qual é a alma do cinema?", por Arnaldo Jabor

Seção: Você pode saber mais!

Muita gente chega para mim e diz: “Como é?... Você não vai voltar a fazer cinema?” “Sei lá”, respondo. E penso: “Que cinema? Comercial, metafísico, político, experimental? O quê?” (...) Tenho saudades do cinema, sim, justamente nesta época em que as imagens inundam nossos olhos e ouvidos. Mas tenho saudades de outro cinema, da fragilidade dos filmes antigos e da ideia do “objeto único” a que eles almejavam. (...)
Atualmente, a cinefilia soa quase como um vício sexual; talvez tenha sido. Há um mundo secreto, próprio do cinema, que só alguns ainda conhecem. Hoje o cinema é nu. Está exposto nas lojas, feiras e bancas de jornais, está nas TVs, está rodando bolsinha nas ruas. Mas, se eu reclamo dessa profusão, dizem: “Ahh, qual é a tua, cara? Isso é bom para o cinema, aumenta a difusão no mercado etc. e tal.” Talvez, talvez, mas tenho saudades da sala escura, do cinema dos pobres tímidos, do cinema como ilusão solitária, realidade alternativa que analisávamos noite adentro nos bares. Como era bom esperar um filme do Fellini, e o novo Antonioni, e o novo Godard... (...)
Naquela época, o cinema ainda tinha a tal “alma” que hoje desapareceu nos supermercados e videoclubes. (...) “Creio que o cinematógrafo será útil para sabermos, no futuro, como os antigos se moviam...”
Talvez seja esta a “essência” do cinema: registrar a morte comendo a vida.
(...) – p. 77, 78, 79, 80.

Pornopolítica: paixões e taras na vida brasileira / Arnaldo Jabor. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

"Índios", Legião Urbana

Seção: 2 mil é dez!
Composição feita por Renato Russo... logo após tentar suicídio.
"(...) Quem me dera, ao menos uma vez, como a mais bela tribo, dos mais belos índios, não ser atacado por ser inocente... (...)"


Maria Lamas (pensamento)

Seção: Pense.
“Ninguém tem direito a duas fatias de pão enquanto houver na terra um homem que não tenha nem um migalho.”

Maria Lamas (poetisa portuguesa do século XX)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

"Eu já fumei maconha durante muitos anos"

Seção: Isso aconteceu!




Drogas. Aí está um tema delicado a ser tratado.
A atração pelo mundo das drogas não me parece ser algo dependente de estímulos externos. Creio que ninguém é influenciado a usar drogas; as pessoas, simplesmente, se apoderam de declarações de outros usuários para justificar a satisfação de uma vontade previamente já existente. Portanto, ao ouvir uma declaração como a feita no vídeo acima, Ney Matogrosso não perde prestígio algum a meu ver. É inegável, no entanto, que sua confissão pode servir de muleta a alguém que já tenha enraizada a curiosidade de fumar maconha. Àqueles que não têm essa vontade enraizada, a declaração eu já fumei maconha é tão insignificante quanto eu já comi nabo. Cada indivíduo sabe exatamente o que quer experimentar, independentemente de comportamentos alheios.
E, já que estamos falando de Ney Matogrosso, me permito ir até um pouquinho mais longe: atentados discriminatórios contra gays me parecem ser uma estratégia de quem quer extinguir a todo custo qualquer centelha que possa incitar a satisfação de um impulso gay já previamente existente. Em termos mais simples: o preconceito contra gays é tolo, imbecil e infundado. Cada indivíduo sabe exatamente o que quer experimentar, independentemente de comportamentos alheios.
Será que me fiz claro?
Fernando Sachetti.

Parônimos II

Seção: Parecia confuso?
ESTANTE (superfície sobre a qual se acomodam objetos): O livro que eu quero que você pegue está na segunda estante, de baixo para cima.
INSTANTE (espaço de tempo; momento): Foi nesse instante que ela começou a chorar.
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COXA (parte do corpo): Este exercício vai deixar sua coxa bem torneada.
COLCHA (manto que cobre uma cama): A colcha branca combina melhor com a decoração do seu quarto.
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CORO (grupo organizado de vozes): Qual te pareceu mais afinado: o coro infantil ou o adulto?
COURO (material proveniente de pele animal): Eu gostaria de saber o preço daquela jaqueta de couro.
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CIFRÃO (símbolo ($) que indica unidade monetária, moeda): O "S" do cifrão deve ser cortado por uma única linha vertical.
SIFÃO (em pias, tudo em forma de S através do qual a água é escoada): Você está vendo a goteira no sifão da pia? Acho que terei que trocá-lo.
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CHALÉ (construção de estilo suíço): Na Serra Gaúcha, pude ver alguns chalés muito charmosos.
XALE (peça do vestuário feminino usada sobre os ombros ou ao redor da cintura): Peguei um xale bem elegante da minha avó pra ir ao evento.
Fernando Sachetti.

"História concisa do Teatro Brasileiro", de Décio de Almeida Prado

Seção: Você pode saber mais!
Contava o Rio de Janeiro, em 1906, segundo o Almanaque Teatral da Livraria Cruz Coutinho, com onze teatros. De quatro só constam praticamente o nome, fazendo supor que se tratassem de edifícios menores, destinados talvez a gêneros também menores, como o café-concerto e o teatro de variedades. Sobre os outros, temos dados concernentes pelo menos à lotação. São teatros amplos, concebidos nos moldes consagrados pelo século XIX. (...) – p. 169
O espetáculo, em tais circunstâncias, definia-se sobretudo como início da vida noturna, que continuaria em ambientes mais propícios às expansões amatorias. Esses claros apelos à sexualidade, lançados dentro e fora do palco, não passavam na verdade de exceções consentidas pela moral pública, que via atores e atrizes como seres diferentes, suspensos entre o ilícito e o artístico, aos quais não se aplicavam as regras comuns. Trata-se do último traço necessário para compor o perfil do teatro, tal como ele se apresentava na cidade mais adiantada do Brasil, o Rio de Janeiro, alguns anos após a virada histórica para o século XX. (...) – p. 172

História concisa do Teatro Brasileiro, de Décio de Almeida Prado. EdUSP; São Paulo, 2003.

"Minha Alma", por Maria Rita

Seção: 2 mil é dez!
A canção Minha Alma foi originalmente gravada pelo grupo O Rappa, no álbum Lado B Lado A: Edição Especial, no ano de 2000. Em 2005, a música ganhou nova versão (bem mais elegante) na voz de Maria Rita, sendo a sexta faixa do CD Segundo.


"A linguagem como alvo", por Moreno & Martins

Seção: Pense.
Bons argumentos não sobrevivem à má linguagem.

Cláudio Moreno & Túlio Martins, no livro Português para convencer (Editora Ática, 2006).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Pau no lombo de quem deixou isso tudo acontecer" (Elis Regina)

Seção: Isso aconteceu!
A gaúcha Elis Regina ficou conhecida pelo grande público como pimentinha. A razão é lógica: ardida, incômoda, notável. Na entrevista abaixo, Elis não faz questão alguma de disfarçar seu mal estar com o nível cretino das perguntas feitas. Ora, os entrevistadores deveriam ter se dado conta de que falavam com uma Pimenta, e não com uma Melancia qualquer!
Confira este tesouro da Música Popular Brasileira:




Quando questionada sobre o porquê de nem todos saberem de sua procedência gaúcha, Elis diz categoricamente:
Eu saí de Porto Alegre pra ser cantora, não pra fundar um CTG.
Quando questionada sobre a existência de lembranças do Clube do Guri, ela alfineta:
Como é que você não vai lembrar do seu nascedouro? (...) Coisa absurda! Umas perguntas que, de vez em quando, ...




Quando questionada sobre quais mensagens as letras das canções deveriam contemplar, ela escancara:
Pau no lombo de quem deixou isso tudo acontecer.
E, por fim, quando questionada sobre de que forma esse descontentamento poderia chegar ao público, ela fecha:
Isso tá sendo levado há muito tempo. Se você tem meus discos em casa, se você acompanha minha carreira, você sabe que tá.

Se Elis Regina estivesse ainda viva, talvez o Faustão tivesse a chance de se tornar um melhor apresentador. Afinal, ela já o teria mandado calar a boca inúmeras vezes.
É isso o que falta à atual geração de artistas: comprometimento com a arte, ao invés de deslumbramento com a fama.
E o que falta aos adolescentes de hoje, além de um bom puxão de orelha, é uma visita a sebos. Ao invés de se contentarem com letras superficiais de Jota Quest e Pitty, deveriam conhecer Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, João Gilberto e contemporâneos.
(E antes que o leitor se sinta pressionado (longe de mim!), lembre-se de que conhecer não pressupõe apreciar).
Fernando Sachetti

Parônimos I

Seção: Parecia confuso?
LISTA (relação; catálogo): Já chegou a nova lista telefônica?
LISTRA (tipo de estampa de camisetas, toalhas...): Gordos devem optar por camisetas com listras verticais.
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COALIZÃO (acordo político; aliança partidária): A súbita coalizão entre os partidos políticos rivais soou estratégica.
COLISÃO (ato de colidir; choque; conflito): Na minha viagem de volta da praia, presenciei uma colisão horrível entre carros.
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CAPUZ (peça de vestuário que protege a cabeça): Os membros daquela instituição vestem capuz branco e vermelho.
CAPÔ (num veículo, superfície protetora do motor): Ao sair da boate, havia um amasso no capô do meu carro.
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DIFAMAR (falar mal de; dizer calúnias): Ela quis me difamar com todas aquelas calúnias.
DEFUMAR (processo pelo qual passam alguns alimentos que têm seu sabor realçado): Prefiro presunto defumado.
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PEITORIL (parapeito; prolongamento à altura da borda de janelas): Do peitoril, pude ver a garota que passava na calçada.
PEITORAL (relativo a peito): Que peitoral grande ele tem!
Fernando Sachetti

"O que faz o brasil, Brasil?", por Robeto DaMatta

Seção: Você pode saber mais!
Trabalho que, no nosso sistema, é concebido como castigo. E o nome diz tudo, pois a palavra deriva do latim tripaliare, que significa castigar com o tripaliu, instrumento que, na Roma Antiga, era um objeto de tortura, consistindo numa espécie de canga usada para supliciar escravos. Entre a casa (onde não deve haver trabalho e, curiosa e erroneamente, não tomamos o trabalho doméstico como tal, mas como "serviço" ou até mesmo prazer ou favor...) e a rua, o trabalho duro é visto no Brasil como algo bíblico. - p. 31
De fato, como é que reagimos diante de um "proibido estacionar", "proibido fumar", ou diante de uma fila quilométrica? Como é que se faz diante de um requerimento que está sempre errado? Ou diante de um prazo que já se esgotou e conduz a uma multa automática que não foi divulgada de modo apropriado pela autoridade pública? Ou de uma taxação injusta e abusiva que o Governa novamente decidiu instituir de modo drástico e sem consulta?
Nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra, somente para citar três bons exemplos, as regras ou são obedecidas ou não existem. (...) Ficamos, pois, sempre confundidos e, ao mesmo tempo, fascinados com a chamada disciplina existente nesses países. Aliás, é curioso que a nossa percepção dessa obediência às leis universais seja traduzida em termos de civilização e disciplina, educação e ordem, quando na realidade ela é decorrente de uma simples e direta adequação entre a prática social e o mundo constitucional e jurídico. - p. 97/98
O que faz o brasil, Brasil?, de Roberto DaMatta - Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

"Eu vou torcer", de Fernanda Abreu

Seção: 2 mil é dez!

As duas faces da língua - por Luiz Fagundes Duarte

Seção: Pense.
“Um linguista como eu não resiste à tentação do prazer de ver como funcionam artisticamente, nas suas mãos e depois de ter observado como funcionam nas mãos alheias, os materiais que profissionalmente está habituado a observar enquanto peças de um mecanismo de precisão."
Luiz Fagundes Duarte é crítico literário, ficcionista, professor catedrático, licenciado em Filologia Românica, mestre em Linguística Portuguesa Histórica, doutor em Línguas e Literaturas Românicas, Linguística Portuguesa.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Palavras de abertura

Como professor e artista, não consigo me desvencilhar da minha função educadora, de transformador social. E nem quero fazê-lo. Creio que esse é o meu carma - um carma que carrego prazerosamente.
O propósito maior deste blog é o de gerar reflexões acerca do rumo pelo qual a humanidade tem optado. Um mundo melhor é possível. Basta optar por ele.
Fernando Sachetti

Chico Buarque erra, mas Maria Bethânia se garante!

Seção: Isso aconteceu!

No vídeo abaixo, Chico Buarque e Caetano Veloso dão vida à canção O Quereres. A canção foi originalmente caetaneada no álbum Velô, de 1984. Sua letra, além de evocar os princípios cultista e conceptista barrocos (jogo exacerbado de palavras e ideias), é envolta numa aura dadaísta pela aproximação de termos aparentemente dissonantes. Isso torna a canção de difícil memorização.

Logo no início da execução musical que se pode checar abaixo, Chico Buarque se perde na letra. No entanto, retoma a interpretação com a classe, a estirpe e o bom humor que lhe são marca registrada. Discordando de críticas cáusticas, pessoalmente, creio que o deslize só tornou o concerto ainda mais precioso. Nada rasura ou apaga o legado que Chico e Caetano já deixaram à cultura nacional.




Enquanto isso, num outro xou...

Maria Bethânia, também cantando O Quereres, usa de uma tática atípica no mundo musical: segue a letra numa folha de papel. De fato, talvez o único a se sentir confortável e seguro o suficiente para não tropeçar naqueles complicados versos seja seu próprio criador - Caetano.

O filho de dona Canô que me perdoe, mas é necessário dizer: ninguém supera Maria Bethânia no quesito potência cênica. Sua performance, que se vê abaixo, é estupenda!




Fernando Sachetti

Dormindo num COXÃO mole. Imagina?

Seção: Parecia confuso?
COXÃO (tipo de carne de origem bovina) : Gostaria de trezentos gramas de coxão mole, por favor.
COLCHÃO (peça almofadada que se põe sobre a cama): Troquei meu jogo de quarto, mas não sabia que o preço do colchão era tão alto!
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COSTA (porção litorânea): A costa brasileira é de deixar boquiaberto qualquer turista.
COSTAS (parte do corpo humano): Estou com uma coceira terrível nas costas.
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RAIA (limite territorial; espaço delimitado): Torço pelo competidor da raia dois.
ARRAIA (espécie de peixe): Nunca vi uma arraia de pertinho... Em que regiões elas podem ser mais facilmente encontradas?
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LÓBULO (porção cartilaginosa inferior da orelha): Coloquei um alargador no lóbulo da orelha esquerda.
LOBO (designação das divisões do hemisfério cerebral - lê-se lóbo): Do Ensino Médio, me lembro que o cérebro, dentre outras partes, divide-se no lobo occipital e no lobo temporal.
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LAVA (material pastoso expelido por vulcões): Ao se solidificar, a lava forma rochas.
LARVA (estágio inicial do desenvolvimento de certos insetos, anfíbios e peixes): Alguns anfíbios passam pela fase de larva antes de atingir a fase adulta.
Fernando Sachetti

"A comunicação não-verbal", de Flora Davis

Seção: Você pode saber mais!
A maioria das pessoas percebe a gesticulação alheia, mas, em geral, ignora-a, não lhe atribuindo nenhum sentido. Contudo, esses gestos comunicam. Às vezes, eles ajudam a esclarecer quando a mensagem verbal não é muito clara. Em outros momentos, eles revelam, de modo involuntário, as emoções. Mãos muito apertadas ou que se mexem nervosamente são um sinal que os demais podem perceber fácil. Às vezes, também, o gesto tem uma funcionalidade tão clara que o significado torna-se inequívoco. (...)
Grande parte da gesticulação comum vincula-se, na verdade, ao discurso, como uma forma de ilustrar ou sublinhar o que se diz. (...)
Também é verdade que, se você pedir a alguém que repita o que disse porque você não entendeu direito, a gesticulação virá durante a repetição, se não veio na primeira vez. A gesticulação emerge quando uma pessoa tem mais dificuldade para se expressar ou quando o esforço para se fazer entender é maior. Quanto maior a excitação, mais ela exige de seu corpo a ponto de gesticular cada vez mais.
A comunicação não-verbal, de Flora Davis (páginas 83 e 89) / Summus Editorial.

"O que cantam as crianças" - José Luiz Perales e a turma do Balão Mágico

Seção: 2 mil é dez!

pensamento de Padre Manuel Antunes

Seção: Pense.
"A santidade da verdade não é cômoda. Exige daqueles que não querem tornar-se completamente indignos dela um tal sentimento de renúncia, uma tal lucidez do olhar, uma tal capacidade de solidão que só poucos, muitos poucos, sabem conquistar."Itálico
Padre Manuel Antunes - Lisboa (1918-1985)